Sergipe Socialista


GUERRA NO RIO DE JANEIRO: REFLEXO DE UM SISTEMA
DESESTRUTURADO


Os traficantes mais procurados do Rio de Janeiro detidos ou mortos, armas e

drogas apreendidas, um prejuízo de mais de 100 milhões de reais para o
tráfico somente no Complexo do Alemão e a comovente carta de uma criança
com os seguintes dizeres: “Estou feliz porque entraram sem dar um tiro.
Estão de parabéns. Obrigada pela nossa segurança. Eu tenho sete anos.
Obrigada policial.”

À primeira vista aplausos seriam justos, afinal, um grande feito da segurança
pública do Rio de Janeiro, porém seu Secretário de Segurança dispara a
infeliz declaração: “Foi angustiante. A gente sabia que aqueles
incidentes que atingiram o Rio eram orquestrados, eram uma
represália aos territórios perdidos pelos traficantes. Eu percebi que não tinha
opção a não ser partir para cima. Na verdade, não estava no nosso
planejamento. Não pensávamos em entrar no Alemão em um ano. Mas
em função de informações da nossa inteligência, tivemos que antecipar a
ação.”

Ora, afirmar que entraram na favela em função de informações da “inteligência”
é, no mínimo, um absurdo. Foi fatalmente falta de opção. O tráfico nas favelas
do Rio de Janeiro há anos é um problema de responsabilidade da
União, e não estadual muito menos municipal. Se assim fosse, a polícia
federal, exército, aeronáutica e marinha não estariam envolvidos no ocorrido.

Antecipar a ação seria a solução de muitas dificuldades do país, mas a
carência de uma administração pública proativa faz com que os
problemas sejam resolvidos, quer dizer, amenizados, como resposta a
alguma situação que chega a um ponto crítico. Dessa forma, o
Estado age impulsionado pela falta de alternativa, como afirmou
Beltrame alegando não ter opção por não estar em seu planejamento.
E mais uma vez se destaca o jeitinho brasileiro de se resolver as coisas
de última hora.

Em seu programa de rádio semanal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é
otimista com relação ao ocorrido: “Eu acho que a operação está sendo um
sucesso. Obviamente que ela não terminou, ela apenas começou". O
intrigante é que a situação caótica pôde ser controlada em menos de dez
dias, com poucos mortos segundo a veiculação da mídia, fonte não tão
confiável, e sem planejamento prévio. Então, por que a invasão às favelas
não foi feita antes, de forma planejada? Por que foi preciso permitir que os
criminosos estocassem 100 milhões de reais em bens ilegais? Por que foi
necessário esperar mais de cem veículos de civis serem queimados?
Esses são alguns questionamentos que, diante de tudo o que vem
acontecendo, carecem de respostas bem fundamentadas, o que não se
ouve.

Uma pergunta é até mais importante que as anteriores: Na favela, as pessoas
escolhem o crime ou o crime escolhe as pessoas? A desigualdade social no
Brasil é horrorizante, passando muito longe dos depoimentos de indivíduos
selecionados pelas campanhas políticas e propagandas eleitorais. No
Complexo do Alemão, citado anteriormente, 29% de seus habitantes vivem
abaixo da linha da pobreza, e 87% deles moram em favelas. Isso é
igualdade?  Partindo para um universo amostral maior, na cidade do Rio de
Janeiro, segundo o IBGE, a renda média de um chefe de família na favela é
de aproximadamente R$ 352,41, enquanto no asfalto é de R$ 1.533,74.
Esses são dados oficiais.

Falar que nunca na história desse país se vendeu tanto carro e se teve tanto
acesso à televisão e internet é muito estimulante quando se deixa de lado a
infeliz realidade de que ainda existem 43 milhões de brasileiros abaixo da
linha da pobreza, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),
ou seja, quase um quarto da população. O Brasil não é um país pobre, porém
é absurdamente desigual.

Com essa visão de Brasil, é muito difícil afirmar que crescendo em uma
favela tomada pelo crime e pela pobreza, seja opção do indivíduo enveredar
ou não para a marginalidade. O pobre não vive doente por que quer, não deixa
de estudar porque quer, porém acaba roubando e matando porque quer...
porque quer ter aquilo que o sistema não permite em função das condições
que oferece.

A questão não é passar a mão na cabeça dos criminosos sob a alegação da
falta de oportunidade que possivelmente enfrentam, mas focar a revolta neles
não resolve o problema. Se eles são mortos pela polícia, outros virão para
matar mais pessoas de bem. Se são presos, sairão piores das penitenciárias
que não possuem estrutura alguma de reabilitação. A revolta deve ser focada
naqueles que comandam esse país, pois eles são os verdadeiros responsáveis
pelas mortes e consequências oriundas da criminalidade.

É revoltante saber que tanto faz morrer um traficante ou um cidadão de bem,
pois quem deveria ser o responsável por isso não vai ter desconto em seu
gordo salário muito menos seu cargo exonerado.  Talvez não tão revoltante,
afinal, a Segurança Pública está sendo ovacionada pelo sucesso em sua
operação contra o crime nas favelas do Rio de Janeiro. Mais uma vitória do
Brasil, um país de todos. Seria cômico se não fosse trágico.

Diego Fernandes de Oliveira


---------------------------------------------------------------------------------------
A FESTA DA HIPOCRISIA BRASILEIRA


É dia de eleição, 03 de outubro de 2010, a festa da democracia brasileira.
Caberia até utilizar o termo “festa da hipocrisia brasileira”. De um lado a
polarização da ideologia voltada para o capitalismo predatório de José Serra
e Dilma Rousseff. Do mesmo lado um Partido Verde travestido de
esquerdista para atrair os insatisfeitos com o atual modelo político.
Marina Silva surpreendeu ao conquistar vinte milhões de votos se tornando a
responsável por levar as eleições para o segundo turno. Nada mais justo,
afinal, toda boa festa merece uma ressaca. E no final das contas, serão
mais quatro anos com o poder monopolizado nas mãos daqueles que, em
sua tamanha bondade, oferecem migalhas traduzidas em um assistencialismo
barato e humilhante.
E nós, o povo, reclamaremos de corrupção, nos descontentaremos com
políticas públicas beneficiadoras dos detentores do capital e lamentaremos
pela palhaçada que é a nossa política. Tamanha a palhaçada que
agraciamos nosso ícone da comédia televisiva, o Sr. Francisco Everaldo de
Oliveira Silva, vulgo Tiririca, com expressivos um milhão e trezentos mil votos.
Acostumamos-nos com governantes que não resolvem nossos problemas,
talvez por isso não faça diferença eleger um palhaço sem qualquer
conhecimento ou histórico político para nos representar como Deputado
Federal. Ou talvez nem saibamos qual o papel que um Deputado Federal
desempenha, como o próprio eleito afirmou desconhecer em sua campanha.
Não somos levados a sério porque não nos damos o devido respeito.
Acabamos nos tornando tão corruptos quanto àqueles que elegemos a partir
do momento que vendemos nosso livre arbítrio do voto por míseras propostas
de melhoria e não de soluções. Sem falar nos que vendem por dinheiro,
cestas básicas ou uma reforma no telhado da casa.
Refazer uma estrada destruída leva tempo, porém depois de terminada nos
permitirá gozar da benfeitoria por longos períodos de tempo. Por outro lado,
tapar os buracos é rápido, fácil, mas sempre será preciso refazer um trabalho
que nunca nos trará o conforto que precisamos. E que se faça a vontade do
povo: rumo ao segundo turno para escolher quem melhor tapa buracos!

Diego Fernandes de Oliveira



---------------------------------------------------------------------------------------

A RETA FINAL!

Faltam poucos dias para o fim do processo eleitoral. A partir de domingo
estaremos livres de tantos barulhos, bandeiras, panfletos e discursos
repetitivos no horário do almoço. Será o fim da grande festa da democracia.
A democracia que dura apenas três meses e nos submete ao voto, puro,
seco, na maioria das vezes desinteressado e desinteressante. As
candidaturas socialistas, que se propõem a uma ruptura radical com a
sociedade em que vivemos, através das lutas dos trabalhadores organizados,
também participaram dessa farsa. Para que fizeram isso? Acaso acumularam
forças? Fizeram-se ouvidas?

Nós, militantes do PSOL, não acreditamos nas eleições como fim de nossa
luta, mas como uma trincheira importante de disputa e inserção, seja na
resistência contra a violência institucional imposta pelo estado, como os
pesados tributos e a brutalidade policial sofrida pelo povo pobre, seja no
apoio às mais diversas batalhas contra o capital, através das ocupações,
piquetes, greves, passeatas e todas as formas legítimas de luta por direitos,
por transformação social. Dessa forma, o convite para continuarmos na luta
dia após dia, independente das eleições, está mantido. Mas, nesse momento,
queremos abrir um diálogo importante sobre a opção do voto.

Os brasileiros irão às urnas em peso. As eleições, além de obrigatórias
quanto à presença, movimentam um mercado gigantesco (observemos
bem o papel da mídia e as campanhas milionárias bancadas pelos
empresários). Não podemos desconsiderar esse envolvimento da população
nas eleições. Assim como o discurso do “vou fazer para você” não deve ser
o único apresentado. Temos de aproveitar as brechas para demarcar uma
alternativa. Uma alternativa de esquerda e socialista. Queremos, então,
apresentar um projeto onde os trabalhadores conquistem seus direitos e
aspirações através da sua organização e luta, e não à espera de um “super
herói” ou “salvador da pátria”. Já chega de dominadores! Nós sabemos o que
é melhor para nós!

Por conta disto devemos votar PSOL - 50. Não porque achamos que nossas
vidas vão mudar completamente com projetos de leis ou gabinetes que
servem de cabide de emprego. Mas porque apostamos numa cultura política
ética e na ocupação do estado como tática para reforçar a nossa luta nas
ruas, no campo e na cidade. Não adianta criticar a ordem estabelecida, a
democracia, os latifundiários, os empresários de transporte, e votar neles ou
nos candidatos que eles financiam. É preciso ser coerente. O voto útil já não
cabe mais. Parece que se estamos num prédio em chamas nos contentamos
decidir se pulamos do 6º ou do 8º andar. Entre o ruim e o péssimo.

Esse voto servirá, entre outros elementos, como um ponto importante de
análise sobre os ganhos e perdas de se participar de um jogo onde não
escolhemos as regras e elas são desiguais. Em breve poderemos fazer um
balanço sobre este processo e elencar os próximos desafios da esquerda.
Com calma responder às questões colocadas no início desta conversa.
Nessa reta final, contudo, chamemos todos à reflexão consciente para no
dia 03 de outubro darmos uma resposta à altura para a classe dominante.
Você Tem Opção! Você tem o PSOL!

Breno Nóbrega de Morais